Solestício
Passamos o cabo. Prolongamos o alívio, a esperança da alegria; nada sabemos do futuro, mas sentimos que nos pertence, porque os fados ficaram para trás. Sentimos, como o infante santo, pela voz do poeta: “venha o que vier, nunca será maior do que a minha alma”. Lidaremos com percas, com traições, com ventos contrários e nevoeiros fundos. Temos uma estrela, ou a lembrança dela, pois quem já viu a luz nunca desiste de a encontrar. O encanto do que vemos vem do conjunto de tudo; nada rejeitamos, porque tudo faz parte: o que nos parece bem e o que nos parece mal, os erros e os acertos, o pequeno e o grande, o baço e o brilhante. Cada momento, mesmo que doloroso, nos sabe bem, é o prazer de criar um caminho, uma história cuja beleza nos cerca e nos levanta, qual vaga abstracta que vamos dirigindo. Heróis e vilões caminhamos lado a lado, inventando a vida a cada passo dado, respirando o possível, que é a matéria de que as utopias são feitas. Alargamos as floresta...