A Paz

Quem pode negar que esteja na natureza humana sentir compaixão por quem sofre? Quem pode negar o que sente por quem vive em cidades como Alepo, bombardeadas desde há anos, sempre em risco, sempre com fome, sem água, sem luz, com medo?
Porém o senso comum considera a guerra natural, considera que faz parte da “natureza humana”, que é inevitável.
O que faz parte da natureza humana é evitá-la.
Alguém chamou à Vida “entropia negativa”, como se segurássemos algo para que não caia ao chão, como se nos opuséssemos à lei da gravidade. A natureza humana quer voar, não quer morrer, nem quer que os outros morram.
O senso comum desiste face à lei da gravidade, diz “quem não pode arreia”. Há coragem nisso?
A guerra não passa da desistência de criar a paz. Não passa de entropia, nada é em si mesma.
A paz sim, é. É construção humana, feita com o corpo, o sentir e a mente.

Donde vem a desistência? —Das frustrações, “a frustração leva à agressão”. Melhor seria se, contrariando a entropia, elas levassem a um esforço de organização que evitasse novas frustrações. O falhanço é uma aprendizagem para que se não repita. Essa a atitude corajosa, não a de bater em quem estiver à mão.
Mas bater alivia. E volta-se a bater à procura do “prazer” do alívio, mesmo quando dele se não precisa. Como o fumador que repete o acto, já incapaz de produzir as suas substâncias naturais com efeitos nicotínicos... a guerra é vício antigo, dependência de frustrados, nada tem de “natural”. Nem mesmo tem existência, não passa de falta de paz.

Mas é vício antigo, os frustrados organizaram-se, com o tempo. Aquilo a que os americanos chamam o “complexo militar/industrial”, o braço armado da Oligarquia, sentindo a frustração de não conseguir vergar a Síria, país com moeda própria e sem dívida externa, levou lá a “democracia”, ou seja, a guerra.

Os dependentes precisam da nossa compaixão. Mas não se trata a dependência fornecendo mais droga.
Não se combate a guerra com guerra mas com diálogo, com informação, com compaixão, com respeito.

Comentários

  1. O problema 'e que para alem da frustração, há outra enorme motivação para a guerra - a ganancia! "Aqueles tipos têm o que eu quero e eu sou mais forte, portanto vou lá buscá-lo! Só preciso de uma desculpa qualquer..."

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  2. É natural desejar tudo de bom e procurá-lo. Assim como é natural respeitar os outros e a si mesmo. A ganância nasce da escassez, do medo dela, da insegurança. E é cultivada numa cultura que valoriza a riqueza; mas não é "natural". A "natureza humana" é cultural e há culturas em que o respeito pelo outro e por si mesmo se sobrepõem à frustração de não ter o que ele tem. Culturas em que há abundância e democracia.

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    1. Desculpe a minha ignorancia, mas importa-se de elaborar? Onde estão essas culturas? A menos que se refira à Amazónia, porque, se é o caso, não tarda que sejam eliminadas de vez...

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