Astrologia

 
                                                             O céu ao meio-dia de hoje

  A Astrologia, como a conhecemos, terá começado há uns quatro mil anos, na Mesopotâmia. 
Muito divulgada entre gregos e romanos cultos, foi codificada por Ptolomeu, em Alexandria, mas a Igreja Romana, não a sabendo integrar nos dogmas, deixou-a esquecida para alguns sábios discretos. Com o Renascimento, renasce a sua popularidade.
  Quando escreve "erros meus, má fortuna, amor ardente", Camões começa por dizer que tem livre-arbítrio, que é responsável pelos seus "erros"; "má fortuna" refere-se a Saturno no Céu de quando nasceu, no seu horóscopo, o planeta que simboliza a exigência, a responsabilidade e cuja posição não era meiga; "amor ardente" refere-se à posição de Vénus, muito perto do Sol.
  A astrologia voltou a entrar na clandestinidade com o Iluminismo, como conhecimento que não deriva da experiência, não é científico, nem mesmo digno de análise. Só no século XX houve quem a referisse de novo, correndo o risco de vexame, e Carl Gustav Jung, que a estudou profundamente, publicou "Sincronicidade" quiçá porque era preciso um conceito para falar de algo que foge à lei da causa e efeito e que custa muito aceitar para um espírito científico, naturalmente materialista.

  O eixo da Terra faz um ângulo de 23º 27´ com o plano das órbitas dos planetas e esse caminho dos planetas pelo céu à nossa vista, essa faixa circular à volta da Terra, de onde se não afastam, de que vemos a parte acima do horizonte e por onde o Sol se vê, desde que nasce, a Leste (chama-se Ascendente, esse ponto) até que se põe, a Oeste,  é o zodíaco, nome que vem dos animais que dão nome às constelações que estão nas doze partes (de 30ºcada) em que os antigos dividiram essa faixa. Os planetas movem-se nela, ao longo do tempo (a Lua, o mais rápido, muda de sítio ao longo do dia, Plutão, o mais lento, demora cerca de 250 anos a percorrer os seus 360º). Como fundo, as estrelas "fixas" servem de mostrador ao "relógio" cujos ponteiros são os planetas. É claro que vemos os planetas de noite, quando a luz do Sol não está e os podemos ver. Desde antes dos caldeus que se deu nome às constelações, se imaginou uma forma simbólica para cada casa de 30º, cada um dos 12 espaços do mostrador que é o zodíaco. O Sol, que demora um ano a percorrer o zodíaco, indica os símbolos, Carneiro, Touro e Gémeos são a Primavera; Cancer, Leão e Virgem, o Verão; Balança, Escorpião e Sagitário, o Outono; e Capricórnio, Aquário e Peixes, o Inverno.
  Há a hora do Sol, que demora um ano a percorrer o zodíaco, e que quando escrevo está nos 30º do signo de Caranguejo, o início do Verão, há a hora da Lua, etc. Marte e Vénus estão perto um do outro, neste momento, e vêm-se como uma única luminária, a mais forte, no céu, no quinto signo (espaço de 30º), Leão. Mas, se formos ver, é a constelação anterior que lhes faz fundo, Cancer ou Caranguejo; porquê? -- porque a Terra roda sobre si mesma como um pião, cuja inclinação roda e assim, o "mostrador" parece rodar, demorando 26 000 anos, aproximadamente, a fazer uma rotação completa. O primeiro mês da Primavera continua a chamar-se Carneiro, porque era a constelação de Carneiro, que lá estava, quando se baptizaram os signos, esses espaços de 30º, muito embora, graças a esse oscilar do eixo da Terra, o Sol, no Equinócio, nasça, agora, com a constelação de Peixes em fundo e, em breve (cento e tal anos!) com a de Aquário em fundo. Chama-se a isto a precessão dos equinócios.  
  Quem nasça agora, por exemplo, com o Sol em Leão, nos primeiros 30º do Verão, signo regido pelo Sol, conhece-se pela seu forte amor próprio, pela sua afirmação da vida, orgulho, mesmo. Quem nasça no próximo mês, regido por Mercúrio, pelo seu poder de análise, de comunicar... e por aí fora. Os planetas são símbolos das características da nossa psique.

  Saltando para o signo onde (no seu grau zero) começa o Inverno, Capricórnio, que simboliza as instituições, coisas sérias, que nos responsabilizam. É por lá que anda, desde 2008, Plutão (Hades, para os gregos), o senhor dos infernos, o poderoso símbolo da morte e renascimento. Já visitou Aquário, o signo seguinte, mas está a fazer o seu movimento aparente retrógrado (as nossas órbitas, Terra e Plutão, estão em lados opostos do Sol) e, em 2024 entra em Aquário para o atravessar, durante vinte e tal anos.

  Ora, da última vez que esteve no princípio de Aquário, há 248 anos, foi a revolução americana:"é, para nós, evidente em si mesmo que os homens nascem livres e iguais em direitos". Em termos astrológicos, depois destes últimos anos de Plutão em Capricórnio, ponteiro marcando o tempo da destruição das nossas instituições, novas surgirão, como a Revolução Industrial trouxe as suas, esta Revolução Informática as suas trará.

  Como prenúncio disso, como algo de simbólico do que o próximo ano institucionalizará, gosto deste discurso do presidente Lula, sem papel, dizendo a alma, em Paris, a representantes de todo o mundo, pouco depois de Plutão ter regressado, temporáriamente, a Capricórnio, como a lembrar que ainda há instituições para descartar, antes de novas nascerem.


Comentários

  1. Perdoe-se ao autor o querer ser didáctico;-)

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  2. Tirando o último parágrafo, de muito mau gosto, uma vez que infeliznente, o comunismo está a entrar a passos largos no Brasil, o texto está um espectáculo. Parabéns!

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    1. Muito obrigado por comentar. Um amigo disse-me que a pessoa anónima lhe fez lembrar o saudoso diácono Remédios. E é verdade;-)

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