Conflicto

Face a um conflicto, quem estiver de fora e puder ser sensato deseja que ele seja resolvido; e imagina que a solução tem que ser aceitável por ambas as partes, ou não seria uma solução.
Porém, quem estiver dentro dele tende a ver o adversário como o responsável pelo conflicto, um burro que não compreende que não tem razão, um personagem (ou um povo) desprezível; e tende a ver a solução como a aceitação, pelo adversário, das teses que defende.
Parece claro que, se o objectivo for resolver o conflicto, o ponto de partida é o respeito pelo adversário. A partir daí é possível o diálogo, é possível cada um compreender os argumentos do outro e é possível a dialéctica donde possa nascer uma síntese que a ambos satisfaça -- assim que ambos compreendam que a nenhum convém a eternização do conflicto.
Vou citar algo muito conhecido, atribuído a Paracelso:

Quem nada conhece, nada ama.
Quem nada pode fazer, nada compreende.
Quem nada compreende, nada vale.
Porém, quem compreende também ama, observa, vê...
Quanto maior for o conhecimento inerente a uma coisa, maior será o amor...
Quem crê que todas as frutas amadurecem ao mesmo tempo que as amoras nada sabe acerca das uvas...


Quem estiver dentro de um conflicto, seguro da sua posição, deve começar por conhecer o pensar e o sentir do adversário. Conhecendo-o, podê-lo-á respeitar e pedir que o oponente compreenda e conheça a sua posição, que o respeite, também ele.
No sistema de governos representativos  que é o nosso, cada partido procura prevalecer (por vezes desrespeitando claramente os adversários) e apenas lhe interessa conhecer os outros pontos de vista para melhor os combater.  Os cidadãos habituaram-se a ter uma lealdade para com o partido semelhante à que têm com um clube de futebol, esquecidos de que as soluções que lhes interessam são, provavelmente, uma síntese criativa de vários pontos de vista, algo de novo e de sensato. 
Os cidadãos capazes de votar num partido diferente do “seu“ têm  aumentado em número. Mas, o diálogo construtivo a procura de sínteses sensatas ainda não existe.  Ora, com o aumento de consciência que se está a passar no mundo, esse diálogo vai-se tornar natural. 
Um exemplo feliz é a forma como os ecologistas franceses, que tinham sido colocados em oposição aos Gilets Jaunes, se lhes juntaram nas manifestações.
O conflito acabará por ser trazido para o seu verdadeiro campo: um conflito entre os “donos da moeda“, a tal oligarquia internacional, e os cidadãos em todo o mundo. Sendo a moeda um instrumento de utilidade pública, os cidadãos hão de querer ter o seu controle. Talvez a solução passe por deixar os oligarcas manterem o dinheiro que acumularam mas modificar o sistema para que essa acumulação de juros cesse, passando os bancos emissores e os bancos normais a ser propriedade dos cidadãos em geral. A tirania da oligarquia poderá ser a primeira tirania derrubada sem violência, porque “a violência é uma forma de luta obsoleta”.
 No conflito entre a oligarquia e os cidadãos, que estarão naturalmente interessados na democracia, as armas são, de um lado o dinheiro, em números inimagináveis, e, do outro, os cidadãos.  É claro que estes só poderão usar a arma que é o seu número depois de terem resolvido os conflitos entre si.

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