Clareza


É preciso, para não sermos “ alienados “, ter ideias claras. O mundo em que vivemos é controlado por uma oligarquia.
Antes de vivermos em oligarquia vivíamos numa aristocracia, a qual baseava o seu poder no Império Britânico, um Império comercial defendido por uma marinha todo poderosaA queda da  aristocracia inglesa começou com a revolução americana, uma revolta que uniu pequenos fidalgos escoceses ressabiados à burguesia nascente no novo mundo e ao povo em geral, explorado. 
Na Europa, Napoleão acabou por ser o braço armado contra a aristocracia inglesa, senhora do Império Britânico.            
Paradoxalmente, é no momento em que é derrotado, em Waterloo, que a atual oligarquia constrói os seus alicerces. Como, para derrotar Napoleão, tinham sido precisos grandes recursos financeiros e a aristocracia inglesa tinha endividado o Império (não tinha querido investir do seu bolso), foi possível, aos donos do ouro e das dívidas inglesas, passar a controlar a produção da Libra, estabelecendo-se em Londres, num quarteirão onde o poder político inglês deixou de ter acesso, a City
A história tem piada, comprova a conhecida frase ”informação é poder”: Rothschild, o principal credor da coroa inglesa, montou um sistema de transmissão de informação desde Waterloo a Londres, com pombos-correio e estafetas, que lhe permitiu ser o primeiro a saber, em Londres, o resultado da batalha. Tinha comprado títulos da dívida inglesa em grandes números e, face à notícia, vendeu tudo ao melhor preço. Imediatamente todos os detentores desses títulos o imitaram, supondo que ele sabia da derrota inglesa – mas quem os ia comprando, a um preço irrisório, era o mesmo Rothschild, por meio de gente que contratara. Quando a notícia da vitória de Wellington chega, e os títulos se valorizam brutalmente, anónimos, tinham dono. O Tesouro, ou seja, o poder político de Inglaterra, ou, se quisermos, do Império Britânico, ou hseja, da aristocracia inglesa, obrigado a cumprir as suas obrigações, sendo a Libra e o seu prestígio um dos seus pilares, viu-se forçado a negociar com Rothschild, discretamente. Dando à aristocracia a manutenção dos seus extravagantes privilégios e ao Império uma moeda forte, a nascente oligarquia conseguiu, num gentleman’s agreement, não publicitado, um quarteirão de Londres que saiu da jurisdição da coroa e o controle da produção da Libra; apareceram os “incógnitos” na lista dos donos oficiais da moeda. Nascera a oligarquia, que demorou menos de um século a conseguir o controlo da Reserva Federal Americana, ou seja, da produção do Dólar, e o controle das Forças Armadas americanas e do Mundo.
A produção do dinheiro, o instrumento de troca ao qual é dado um poder descomunal, sempre foi a pedra de toque do poder político. Imaginemos um carpinteiro que, sempre que precisasse de usar a plaina, tivesse que pagar aluguer ao seu dono: trabalharia para ele, o qual ditaria o preço do aluguer. Sem cunhar moeda não é possível controlar seja o que for. Sem a plaina ou sem os outros instrumentos, o carpinteiro não pode ser livre.
Neste momento, dona da produção de moeda, de uma imensa quantidade acumulada de dinheiro sob várias formas, da capacidade de pôr países a pagar renda, de todos os meios de produção e de todas as indústrias, incluindo as do armamento e do petróleo, a oligarquia controla o mundo. Dona dos meios de comunicação e tendo ao seu dispor o know how da manipulação, que inclui a sociedade consumo, ela não é posta em causa pelas populações, da mesma forma que os ingleses não punham em causa o poder extravagante dos seus Lords.
O sistema está entranhado na estrutura cultural do nosso tempo, parece-nos “natural”.
Assim como, no século XVIII, a ideia de que deveríamos ser todos iguais perante a lei, criou a consciência de que a aristocracia poderia ser derrotada, assim hoje, a ideia de que a produção de moeda não deveria estar as mãos de uns poucos, a ideia de que precisamos de lhes tirar o poder político, de que podemos fazer outras leis, é a ideia que há de derrubar o sistema em que vivemos no mundo, a oligarquia.
Neste momento, já receosa da nossa tomada de consciência, ela aposta de novo nos tiranos (por ela controlados, disfarçadamente), como Bolsonaro.
Se a consciência política se ficar pela consciência de que há políticos corruptos, sem pôr em causa a produção e o controle da moeda, a oligarquia continua. Mas há condições para que o número de pessoas conscientes de que a informática nos permite criar a Democracia atinja um número, um limiar, a partir do qual isso deixe de ser apenas de bom-senso mas passe a ser o senso comum.
Quando as populações tiverem a ideia clara de que deveríamos viver em democracia, de que é absurdo que vivamos em oligarquia, e a ideia de que isso passa por lhe retirar o poder de criar moeda, as leis acabarão por fazê-lo.
A anterior revolução, a revolução industrial, teve que derrotar o exército inglês e criar os Estados Unidos da América mas a sua ideia chave, a de que todos os cidadãos devem ser iguais perante a lei, escrita na Constituição americana, foi abraçada por todos os povos do mundo; ainda é essa ideia o que há de permitir que esta revolução (que se chamará, provavelmente, um dia, “informática”) se passe, sem violência—com os soldados da oligarquia a mudar de campo.

O incêndio que continua na Amazónia, ateado pela procura do lucro de alguns, a mentira obscena de Bolsonaro de responsabilizar as ONGs pelo sucedido, tudo contribuirá para que o culto do dinheiro seja substituído pelo da Natureza, da vida, da liberdade; para que a manipulação, já tão antiga, que faz gente decente imaginar que para viver precisaria de ganhar o Euromilhões, deixe de ter poder.
Mas a jogada actual da oligarquia é o fascismo. Se a consciência nascente se ficar pela raiva contra os políticos corruptos, a tirania é possível. 
https://www.publico.pt/2019/08/11/politica/opiniao/portugal-alvo-estrategico-extremadireita-1883028

Há que ter ideias claras! Temos que tomar consciência da sofisticada manipulação a que estamos sujeitos, há tanto tempo.

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