Guerra
As sociedades saudáveis evitam a guerra, usam a diplomacia e resolvem os diferendos com os vizinhos. Dão autonomia às regiões que, por diferentes, a pedem, ou permitem mesmo, em referendo, que essas regiões fiquem independentes e escolham o seu caminho.
Mas uma sociedade insegura, com uma identidade dividida, com privilégios mal aceites, com pobreza e corrupção, pode desenvolver um nacionalismo "paranóico", fascistóide, que escolhe a guerra, em desespero de causa.
As fronteiras nem sempre correspondem à realidade humana e histórica, são resultantes de guerras passadas. E a convivência de povos diferentes dentro do mesmo Estado pode ser origem de paixões guerreiras, de situações em que se perde de vista o essencial -- a paz-- e se escolhe, emocionalmente, a guerra.
Ao pedir ajuda à sua ex-colónia americana para derrotar Hitler, o Império Britânico deixou de ser o único senhor dos mares, ficou à sombra dos Estados Unidos da América mas estes caíram nas mãos de uma oligarquia internacional, que já dominava, na sombra, o Império Britânico, formalmente controlado por uma aristocracia, desde o tempo da Magna Carta; oligarquia internacional que financiara o assombroso fabrico de armas, urgente, durante a II Guerra, e que transformara este país numa fábrica de armamento e o passou a controlar, politicamente.
Os vencedores da II Guerra Mundial dividiram a Europa, que perdeu a soberania sem disso se aperceber; uma parte integrou o império financeiro e, outra parte, o império continental russo, agora URSS, ambos com uma ideologia expansionista. Os dois impérios temiam-se um ao outro e, graças à bomba atómica, nunca se atreveram ao confronto directo. Passou quase meio século.
Ser civilizado é querer a paz e Gorbatchev era um homem civilizado. Imaginou a paz possível e a enorme vantagem de deixar de gastar metade do PIB na corrida aos armamentos. Porém, do outro lado, a oligarquia contava com as encomendas do estado para vender armamento, nenhuma vantagem lhe trazia a Paz. Gorbatchev, apesar do enorme poder de que dispunha, não conseguiu fazer as reformas que imaginara e deu o flanco ao adversário, que, império financeiro que é, saqueou a Rússia; o seu adversário interno, Ieltsin, à última hora, inverteu o rumo e entregou o poder a um ditador, como o Senado romano fazia, em situações demasiado graves; Vladimir Putin, um organizador competente, criou um nacionalismo e tratou de recuperar o império, a Rússia saiu do caos. Procurou a paz mas a oligarquia procurava a guerra, as encomendas de armamento sofisticado, os biliões a que se acostumara.
O ditador foi pintado, no Ocidente, como um perigo análogo a Hitler, uma forma de aliciar os países europeus para comprarem armamento, era um grande mercado. A Organização do Tratado do Atlântico Norte, que prometera a Gorbatchev não avançar "nem uma polegada" para Leste, quando este dera a independência aos países europeus que faziam parte do império russo desde Ialta, cercou a Rússia com países da NATO.
Incentivou guerras nas fronteiras do império russo, na Geórgia, na Tchetchénia, nos Balcãs e chegou mesmo a criar um país, o Kosovo, em que metade do território é uma base americana.
Faltava a Ucrânia, a "estrada" por onde entrou na longínqua Rússia o exercito de Napoleão, no século XIX e o de Hitler, no século XX. Embora a oligarquia não pretenda (esperemos!) fazer uma invasão territorial mas apenas substituir o ditador nacionalista por um "eleito" controlável, que permita a compra dos poços de petróleo, etc, a verdade é que os militares russos e mesmo o povo, veem a entrada da Ucrânia na NATO como uma ameaça. Angela Merkel compreendia isso mas já não o pode impedir. Zalensky anunciou a entrada na NATO, responderam-lhe que, em princípio, a Ucrânia tinha direito, anunciou o projecto de tomar o Dombass e a Crimeia e tomou posições militares para isso.
O objectivo da criação de um Estado fascistóide e pró-americano na Ucrânia (o golpe de estado, em 2014, fora projectado em Whashington) era esta provocação ao império russo, para criar esta guerra e os biliões que a administração americana e os governos europeus comprarão, de armamento, durante uns anos.
O governo dos Estados Unidos da América está, há décadas, nas mãos da oligarquia internacional mas há sinais de que a "missão" de levar o sistema americano a todo o mundo já não tenha tantos adeptos. É claro que queremos os Direitos Humanos, por sinal tão maltratados durante a pandemia mas não nos venham dizer que é preciso conquistar a Rússia e a China para os "defender". Centenas de bases cercam esses países, eles é que podem sentir a necessidade de se defender.
Um mundo multipolar, composto por vários impérios em equilíbrio, em paz, é possível.
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