A tolerância
Dantes a tolerância parecia-me sobranceria e defendia a aceitação e o respeito por quem pensa e age de formas que nos parecem inaceitáveis.
Com o tempo, talvez com os pés mais assentes na terra, mais consciente dos nossos limites, valorizo a tolerância, virtude essencial para a convivência, no mesmo planeta, de tantas civilizações diferentes.
Continuo a respeitar as pessoas que dizem os disparates mas há ideias que não consigo respeitar, posso tolerar, e é bem preciso: o ainda presidente do Brasil disse que foi pena os brasileiros não terem eliminado os índios, como os americanos quase conseguiram, e ainda haver umas dezenas de milhões de primitivos; ou teve a ideia de levar o país a uma guerra civil, ao não aceitar com clareza e imediatamente o resultado das eleições. Os brasileiros, divididos ao meio, precisam mesmo de cultivar a tolerância, de um lado e do outro. Sem ela, mesmo que se não guerreiem, o país funcionará mal.
Sem a tolerância não há diálogo, só vemos o assunto que não toleramos e ficamos encurralados.
Não se trata de moral, conceito que tem ligação a formas de poder, o poder sobre as ideias dos subordinados não apareceu com os meios de comunicação actuais.
Trata-se de uma actitude prática, civilizada, que permite ao Biden e ao Xi Ping conversar, pertencendo a civilizações tão diferentes.
Não há liberdade sem tolerância, começando pela nossa liberdade, pois a intolerância gera emoções que nos podem levar à agressão, e que nos não permitem ver globalmente, compreender o que é diferente, primeiro passo para aceitar e, eventualmente, respeitar.
Por exemplo o espírito, que muitos negam, porque se não vê. "O que é o 34 na realidade?", perguntou Caeiro; as ideias abstractas têm, porém, uma existência própria, na nossa imaginação. E tudo o que imaginamos, eventualmente, se realiza. O espírito pode ser imaginação nossa, pode ser que não haja outras dimensões... mas Einstein passou 20 anos a tentar encontrar algum erro na matemática da mecânica quântica sem o conseguir. Existem, para a ciência, outras dimensões. Será lá que estão os nossos sonhos de uma humanidade civilizada? Quanto a isso, nada sabemos.
Mas uma humanidade que seja tolerante e evite as guerras, essa existe na nossa imaginação e, ao longo da história, o que imaginámos vai acontecendo. Não é verdade que se aplicam leis iguais para todos, o que não passava de imaginação de alguns antepassados nossos, no século XVIII?
O espírito seria a ideia de que a nossa essência é comum e de que, nesse nível, o entendimento é possível.
Namasté
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