Nacionalismo
"Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso".
Os povos têm seus usos, suas leis, criadas ao longo da sua história. O diálogo com outras culturas é enriquecedor e criador de civilização. Mas a submissão pela força é outra coisa.
Há, nos povos que foram forçados a usar leis de outros, um sentimento ferido que espera o momento de se manifestar. Mesmo quando integram, à sua maneira, valores que lhes eram estranhos, todos os povos, todas as culturas, aspiram a ter soberania, condição para serem independentes, condição para serem interdependentes, condição para realizarem os seus sonhos.
Se esses sonhos incluirem a glória de impor as suas leis a outros povos, estes defender-se-ão e guardarão sempre, se dominados, o desejo de ser independentes.
Há cerca de um século apareceu a ideologia fascista, em Itália, uma forma de aproveitar o sentimento nacionalista para fins políticos. Foram estimuladas emoções irracionais e, na sua forma alemã, o nazismo, as consequências foram catastróficas. Embora tenham sido os russos quem entrou em Berlin, o liberalismo económico, ou seja o império da Libra/Dollar, apresentou-se, insistentemente, desde há décadas, como a única ideologia "sensata". Qualquer tentativa de recuperar a soberania económica, num país, passou a ser um perigo de fascismo ou comunismo.
O acordo de Breton Woods, no fim da II Guerra, que fez do dólar a referência para todo o comércio, são regras made in USA que foram aceites porque o dólar era convertível em ouro, era uma referência válida. Nixon, sem consultar o mundo, acabou com a convertibilidade do dólar em ouro, a moeda de referência passou a ter dono. Nessa altura, nos anos 70, o mundo estava tão habituado ao sistema que ninguém se opôs; na verdade, de nada serviria, manda quem pode.
Neste momento há um número crescente de transacções comerciais entre países que passam ao lado do dólar. A Arábia Saudita (governada por um tirano sanguinário), vende petróleo sem ligar ao dólar e fez uma aliança com o Irão, sujeito às sanções de Washington. O mundo multipolar está a nascer. No futuro o dólar será a moeda dos USA, tão só. E, se a continuarem a produzir aos triliões, como até aqui, ela desvalorizar-se-á, processo lento, é certo, todos os países têm reservas em dólares, a transição demorará -- mas já começou.
O totalitarismo neo-liberal, que controla Washington e o exército americano (com o apêndice da NATO) continuará a identificar nacionalismo com fascismo mas, por exemplo, a procura de soberania que Lula faz, é nacionalista e democrata.
São tempos de mudança e os povos vão se apercebendo de que, se não tiverem soberania, são escravos. Há fascistas, claro, é o plano B do totalitarismo neo-liberal. Mas as pessoas vão-se apercebendo de quão ridículo e falso é o discurso de fantoches como Trump e Bolsonaro. A ideia entranhada de que o nacionalismo tem que ser de direita, o que leva os povos a votar no liberalismo, "unica" defesa contra o fascismo, vai demorar a desaparecer mas o anseio pela soberania é uma força política que acabará por pôr em causa o totalitarismo neo-liberal. A liberdade em relação ao império de Washington é o primeiro passo para a democracia dos povos; um povo subjugado não é livre e, sem liberdade, não pode criar a sua democracia, coisa que nunca vem de fora, muito menos do totalitarismo neo-liberal. Os fantasmas do nazismo deixarão, eventualmente, de nos fazer cair nos braços do neo-liberalismo totalitário. Um mundo multipolar está a nascer.
O nacionalismo, paradoxalmente, é hoje uma força democrata e progressista. O neo-liberalismo de Washington, uma força totalitária e conservadora.
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"Da discussão nasce a luz"