Angústia
A vida não é uma luta. Pelo menos não é uma luta com a vida, com as plantas, os animais e, neles, com a nossa espécie.
A vida pode ser vista como luta com a morte. A sobrevivência é, porém, muito pouco para caracterizar a vida; sobreviver é evitar a morte; feito isso há que viver o grande mistério.
E, na angústia diante do mistério da vida, reduzi-la a uma luta pela sobrevivência é um recuo que se assemelha á morte. É perder, na luta pela vida.
Adenina, timina, guanina e citosina, A, T, G e C, as letras com que o ADN escreve as infinitas formas da vida, são letras com que pode escrever uma amiba ou um Mozart.
Para criar as suas formas mais complexas, a vida não precisa de eliminar as amibas.
Nem as amibas precisam, para existir, de eliminar os humanos geniais.
Somos parentes, usamos a mesma linguagem dessas quatro letras, dispostas três a três; não somos inimigos.
Mas a vida pode levar a situações paradoxais. Um dos descendentes da amiba dos mares primitivos adaptou-se a viver no nosso intestino. E, apenas para sobreviver, pode-nos matar; perdendo assim a vida, sem o seu hospedeiro.
Também nós, se tomarmos a Terra, o nosso hospedeiro, por infinita, nos arriscamos a perder a vida. Sem condições para nos hospedar, a Terra – e a vida – continuarão, porém.
A vida não é uma luta, é uma procura de harmonia, é, tanto quanto sabemos, uma criação contínua, e, neste momento, aquilo que ela cria, por nosso intermédio, é a consciência.
A consciência, esse sublime resultado da evolução, pode-nos, quiçá, levar a parar a luta com os outros seres vivos, incluindo neles os da nossa espécie, e levar-nos a parar de lutar com a Terra, que hoje sabemos ser um grande ser vivo. Parar a luta com a Vida, tolice de inconscientes que éramos, há bem pouco tempo!
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