A Direita

Perguntaram-me o que é a Direita e cada um terá o seu conceito do que seja.
Sendo assim, lembrando ao leitor a subjectividade implícita em todas as afirmações, de todos nós, quer nos consideremos de direita, de esquerda ou "antes pelo contrário", aqui fica o que me parece mais caracterizador.
No salão do jogo da Pela (ou palma, antepassado do ténis), nas primeiras assembléias em que se discutiam as leis, os aristocratas estavam, por acaso, do lado direito de quem estava na mesa e os burgueses do lado esquerdo. A Direita votou contra essa novidade, vinda da América, a de que as leis fossem iguais para todos os cidadãos e tentou manter as leis privativas da nobreza, donde vem a palavra "privilégio".
Para a Direita, uma sociedade que não reconhecesse formalmente uma hierarquia social era inviável, mesmo impensável.
Hoje os cidadãos são iguais perante a lei, outra coisa nos parece impensável. Os sans-culottes, porém, há muito deixaram de lutar por uma sociedade sem classes, há muito que a distinção se compra. E, hoje, a Direita continua a ser composta por aqueles a quem parece inviável e mesmo impensável uma sociedade em que não haja miséria nem quaquibilionários.
As leis são iguais para todos, sim, mas servem melhor quem tem capital e pior quem o não tem. Foram feitas por medida para o que veio depois da aristocracia: a oligarquia.

Hoje a Direita diz-se "democrata" e insiste que quem tem dinheiro tem mérito, encorajando quem se sente merecedor a defender os actuais privilégios e a ver na Esquerda a causa de os não ter ainda; o actual sistema oligárquico tem a mesma candura e segurança que caracterizava os que usavam culottes na sala do jogo da Pela.
Os oligarcas, porém, já não estão na sala, fazem-se representar pelos "eleitos".
E os democratas, os que se representam a si mesmos, não têm lá assento, não foram convidados para ser eleitos, e, de qualquer forma, mesmo que tivessem esse privilégio, não caberiam na sala, porque são milhões.

Mas corrija-me, leitor, pois "da discussão nasce a luz".

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