Fascismo

Não vou incitar à violência, claro. Mas vou propor a inteligência.
Quem viveu antes do 25 de Abril lembra-se de que os democratas chamavam “fascistas” àqueles que não viam a necessidade de mudar o regime político, de acabar com a censura e com a polícia política, de permitir a liberdade de reunião e associação, de permitir as greves, etc. E os fascistas indignavam-se com a utilização do termo, que se deveria, segundo eles, aplicar apenas ao regime do ditador italiano dos anos trinta, cuja fotografia estava na secretária do nosso bondoso autocrata.
O termo ganhou um significado genérico, porém, e refere-se, popularmente, a todos aqueles para quem “os fins justificam os meios”. Ou seja, a todos os que aceitam que se pratique a violência sobre os que pensam e agem de forma diferente. O que dá o paradoxo de poder chamar fascista a Stálin e ao actual presidente dos E.U. da América. Mas é um termo útil.
Há uma célebre experiência científica em que se tirou um galo de uma capoeira e se lhe pintou a crista de azul. Introduzido de novo na capoeira o galo foi bicado até à morte, e depois dela, por todos os galináceos que lá habitavam. 
Nós, embora mantenhamos, na base do cérebro, o chamado cérebro reptiliano, dispomos de uma estrutura muito mais complexa, cuja última aquisição se chama neo-cortex, estrutura que apenas partilhamos com os elefantes e com os cetáceos. E somos, de facto, livres. Podemos abdicar dessas “inovações” e ficarmo-nos pelo cérebro das galinhas. Ninguém nos impede.

Estamos em tempos de mudança, começou aquilo a que se chamará, decerto, Revolução Informática, análoga à Revolução Industrial, 250 anos atrás. A quantidade—crescente! —de informação, o stress que cria, leva muita gente a desejar a imaginada simplicidade de “outros tempos”; ter meia-dúzia de ideias simples e um chefe em quem se confia e a quem se delega o trabalho de pensar, que exige estar informado.
Mas, assim como delegar a responsabilidade política nuns poucos, a quem chamamos “os políticos”, teve como resultado vivermos em oligarquia, se delegarmos a responsabilidade de pensar teremos como resultado a tirania.
(neste momento, em que escrevo, uma notícia aparece ali em cima: a nova campeã europeia de judo, classe juniores, é uma portuguesa)
Sinto simpatia por quem desiste de acompanhar as notícias do mundo e se fica pelas que lhe agradam. Simpatia que não desiste de explicar o que era o fascismo, de mostrar as fotografias dos campos de concentração e da guerra. Porque, como disse há pouco uma deputada sueca, foi por não conversarmos com eles que chegaram a estes números alarmantes.
http://wegert-familie.de/home/English.html
Estar de braços cruzados, agora, será inconsciência. Dentro de dois anos pode ser coragem.
Só com muita simpatia despertaremos, nos desistentes de pensar, a abertura de espírito que permita ver o pesadelo que foram os diversos fascismos.
Não desistamos, os democratas! A simpatia que tivermos, agora, poderá evitar uma catástrofe. A paciência, a persistência, poderão livrar-nos de ter que ser "heróis à força".
Porque "Há sempre alguém que resiste".

Comentários

  1. Parece-me um apelo muito consciente o de alertar para que não esqueçamos o passado recente de atrocidades cometidas por loucos, que até foram eleitos. Não nos podemos demitir de enfrentar essas duras realidades e ao mesmo tempo lembrar todos através do mundo virtual. Contudo, dada a quantidade de desinformação que existe neste universo virtual, não será difícil, por exemplo a um jovem julgar algumas notícias e informações como sendo falsas e exageradas. O jornalismo sofre de uma falta de filtro, de uma falta de foco no essencial, de uma falta de busca de fontes credíveis, que levam a que nomeadamente os mais jovens misturem tudo e anseiem por soluções mais fáceis, mais lineares e supostamente «clean», ainda que não sejam as melhores, mas as que os sossegam dentro de um espírito de « paternalismo» político, que lhes devolve alguma segurança, semelhante à que lhes passam os seus Pais, que lhes impõem limites e regras e os desresponsabilizam.Não se arriscando assim a ficarem com cérebros de galinha mas também a não ter a maçada de usar o cérebro do elefante. Fomentar que usemos o nosso cérebro na base da verdade histórica, sem esquecer as atrocidades do comunismo, parece-me um caminho harmonioso.

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  2. Também me parece que a descontinuidade que é imposta nas notícias, no âmbito das matérias importantes, não se compadece com a relevância que seria suposto conferirmos a essas notícias ou lembranças históricas. Passa-se num ápice de uma notícia sobre escravatura na Líbia, a título de exemplo, para outra notícia de uma medalha desportiva e aquela que permanece durante dias é a última. Essa circunstância édecisiva na escolha do nosso foco. Não é propositada esta reflexão:).(Que Portugal continue a ser muito medalhado).

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    1. Tem razão. A oligarquia controla a comunicação social. Aparentemente não se assusta com o crescimento do fascismo. E sabemos que, nos anos 30, os grandes negócios prosperaram; assim como sabemos que, sem o beneplácito da oligarquia, Hitler não teria chegado ao poder.

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